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A importância do brincar dos bebês

Os bebês têm uma capacidade imensa para assimilar o que vem do mundo: seus neurônios estão em plena atividade prontos para aprendizagem. Esta plasticidade neuronal é diretamente influenciada pela interação que os bebês têm com as pessoas significativas que lhes prestam cuidados.


Percebemos, portanto, como o laço com os cuidadores primordiais (normalmente a mãe) é essencial para o desenvolvimento do bebê, servindo de base para organizar as suas funções corporais, as noções de espaço e de tempo, a fala, etc. Assim, é neste vínculo com a mãe que se instalam circuitos de prazer que servem como motor para que o bebê queira se relacionar com sua mãe repetidas vezes. Somente desta maneira que as funções de seu desenvolvimento se instalam e podem seguir em frente.

Portanto, o eixo que ordena o desenvolvimento humano é embasado nestas experiências de prazer contornadas pelas palavras maternas sobre o bebê no início de sua vida, a que chamamos de função materna. O que importa é o laço, é a participação de ambos. Não há desenvolvimento que transcorra sem uma participação ativa do bebê no laço com sua mãe. Ele a convoca a brincar: brinca com o seu corpo, com o som e com as palavras que saem de sua boca, com os orifícios corporais, explorando partes deste corpo para que possa ser inscrito pela linguagem através das falas que a mãe lhe endereça. O corpo é formado de linguagem.


No decorrer da estruturação do bebê, o seu brincar vai assumindo outros formatos com passar do tempo. Se no início o bebê brinca com o corpo da mãe, mais para frente passará a brincar com outros objetos que lhe serão oferecidos como significativos e que ele aceitará para então fazer os mais variados usos. Porém, a passagem de um momento para outro não é espontâneo e automático: é necessário que certos processos sejam elaborados para dar sustentação ao que virá depois.


Vemos como o brincar não apenas expressa em que etapa da estruturação psíquica o bebê está, mas é condição para que esta mesma estruturação ocorra. E, para tanto, é preciso envolvimento de ambas as partes: do bebê e da mãe. Não adianta fazer com que uma criança aprenda ou faça qualquer atividade se ela não estiver interessada. Não é um bom sinal vermos bebês apáticos, quietos demais, sem interesse, sem vontade de se ligar às pessoas.


Bebês que brincam são inquietos, incomodam porque convocam para que os adultos sustentem este brincar com eles, impondo a eles certa flexibilidade, já que é preciso um olhar atento para acompanhar as mudanças dos bebês e poder nomear, junto deles, o que estão fazendo. Assim, é preciso, também, haver um adulto que se envolva nestes jogos e brincadeiras com os bebês e que sejam capazes de se perguntar: o que eles querem? Por que estão fazendo isso? Supor um saber ao bebê é essencial para tomá-lo como sujeito de seus atos, mesmo diante da imaturidade de suas funções corporais.


Poder brincar é se divertir com o mundo dos símbolos: é sair da concretude das necessidades para instaurar a representação. Quem não gosta de brincar de se esconder, brincar de mágica, de faz-de-conta ou, como os bebês, brincar com os sons da voz, com a os buracos corporais ou com a diversão da mamãe? Brincar é poder divertir-se com aquilo que falta, com o enigma, sendo o que impulsiona o desenvolvimento da criança.


Fabiana S. Pellicciari

Psicanalista, membro do TRIEP

fabiana.pellicciari@gmail.com


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