Na reportagem de agosto/20 (link abaixo), a manchete “Gordofobia não pode ser levada na brincadeira”, causa estranheza, uma vez que lemos na matéria a descrição de cenas de violência, agressividade e desvario. A atendente de uma farmácia foi vítima de uma cliente que, entre outras coisas, a chamou de “gorda inútil e incompetente”.
Aversão à gordura, em linhas gerais, nomeia-se de gordofobia.
Uma aversão que se manifesta, por um lado, em um pavor/horror que os sujeitos contemporâneos possuem de engordar e, por outro, no desprezo dirigido às pessoas consideradas gordas.
Atualmente, temos um contexto em que a mulher é posta como produto (“Vera Verão” da Itaipava, por exemplo), sensualizada e cobrada a consumir tudo que é propositalmente disposto a ela. As cobranças pelo corpo supostamente perfeito são reforçadas e ganham plus “especial” quando os veículos de comunicação divulgam um padrão único corporal: branco, jovem, musculoso e magro.
As mulheres gordas sofrem pressão psicológica por estarem fora do suposto padrão certo/bonito. Podem entrar, daí, em uma rota de depreciação de sua imagem corporal, além de experimentarem exclusão em diversos convívios sociais, terem dificuldades à acessibilidade em transportes e lugares públicos e, sofrem a exclusão da indústria da moda que só visa os corpos magros.
Os olhares e julgamentos são aspectos de praxe no cotidiano de quem é gorda, sem falar, nos transtornos alimentares que podem advir desse quadro de possível inadequação estética.
A sociedade, doentiamente, significa o corpo gordo como uma espécie de fracasso moral e ausência de saúde, em contrapartida, o corpo magro como belo, saudável e a própria personificação da felicidade.
O corpo gordo rompe as normas sociais ligadas ao corpo ideal e transforma-se no alvo da ira daqueles que “compram” ilusões através desse ideal corporal: amores, valorização, reconhecimento e a tão almejada felicidade de um suposto mundo onde nenhum olhar encantado “te faltará”.
De certa forma, esses irados pela aversão a gordura sabem, inconscientemente, que compram “gato por lebre”, perdidos nos apelos do mercado de consumo e manipulados buscam algo determinado por um mercado que deles só quer o dinheiro.
Insatisfeitos frente a desilusão de que um corpo magro não garante o “paraíso” nas relações com os outros nem consigo mesmo, voltam-se, projetivamente, contra esses que mostram que há outras formas corporais possíveis e vida.
A gordofobia tem que ser levada a sério, é preconceito. E desmerecer o outro para se sentir superior a ele é indicativo de uma saúde mental debilitada.
Daisy Maria Ramos Lino
Psicanalista membro do TRIEP
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