Flaira Ferro
“Narciso acha feio o que não é espelho”. Esse olhar inebriado, encantado e embevecido sobre si mesmo recusa em se desalojar do posto de “magnífico, esplêndido”.
O caminho a percorrer, no percurso de uma análise, é o da renúncia desse olhar sobre si mesmo e diante de circunstâncias complicadas da vida, poder acreditar nas possibilidades de se reinventar, criar alternativas para o seu existir. Mudar sua relação consigo mesmo, abrindo as possibilidades para o seu potencial próprio à criatividade, o brincar e a relação com os outros.
Caminhar em busca de um lugar não pronto, mas feito por aquele que passa por ele. Parafraseando Antônio Machado, poeta espanhol: “Caminhante, não há caminho, faz-se o caminho ao caminhar.”
Sou a maldade em crise
Tendo que reconhecer
As fraquezas de um lado
Que nem todo mundo vê
Fiz em mim uma faxina e
Encontrei no meu umbigo
O meu próprio inimigo
Que adoece na rotina
Eu quero me curar de mim
Quero me curar de mim
O ser humano é esquisito
Armadilha de si mesmo
Fala de amor bonito
E aponta o erro alheio
Vim ao mundo em um só corpo
Esse de um metro e sessenta
Devo a ele estar atenta
Não posso mudar o outro
Vou pequena e pianinho
Fazer minhas orações
Eu me rendo da vaidade
Que destrói as relações
Pra me encher do que importa
Preciso me esvaziar
Minhas feras encarar
Me reconhecer hipócrita
Sou má, sou mentirosa
Vaidosa e invejosa
Sou mesquinha, grão de areia
Boba e preconceituosa
Sou carente, amostrada
Dou sorrisos, sou corrupta
Malandra, fofoqueira
Moralista, interesseira
E dói, dói, dói me expor assim
Dói, dói, dói, despir-se assim
Mas se eu não tiver coragem
Pra enfrentar os meus defeitos
De que forma, de que jeito
Eu vou me curar de mim?
Se é que essa cura há de existir
Não sei. Só sei que a busco em mim
Só sei que a busco
Me curar de mim”
Daisy Lino
Psicanalista e membro do TRIEP
daisy_lino@hotmail.com