A Organização Mundial de Saúde (OMS) considera a depressão como o "mal do século XXI. Atualmente, mais de 120 milhões de pessoas sofrem com a depressão no mundo – estima-se que no Brasil, são 11 milhões, 6% da população foram diagnosticados com depressão. E cerca de 850 mil pessoas morrem, por ano, em decorrência da doença.
Mas, a depressão ainda é confundida com tristeza.
A depressão se caracteriza como um estado mental que pode se manifestar por apatia, sensações de impotência e desesperança. Nela, a intensidade das cores esmaece, assim como o claro-escuro, dando lugar a uma tonalidade cinza, sem contraste. Os cheiros param de ser percebidos; as texturas deixam de ser registradas; os sons ficam amortecidos e podem até desaparecer. O processo digestivo fica prejudicado e o corpo passa a ficar pesado. Os movimentos corporais ficam lentos, os pés se arrastam. Em suma, o corpo penetra em um estado de insensibilização da sensorialidade.
A depressão varia de intensidade. Pode tomar a forma de um estado denominado, às vezes, pela psiquiatria, depressão subclínica, assim chamado por não ser notado pelo clínico, a não ser por um complexo de sintomas psicovasomotores, complexo este que se distingue do reconhecido amuo depressivo. São típicas deste estado as seguintes queixas: opressão no tórax, pesadelos, pressão no crânio, sinusite, dores de cabeça, tonteiras, distúrbios do sono e da potência sexual.
Trata-se de uma patologia, conduz a um quadro de letargia física e de empobrecimento do pensamento, impossibilita o deprimido de exercer ou possuir algo que é fundamental para o viver humano.
E a diferença entre tristeza e depressão?
É absolutamente normal nos seres humanos momentos de baixa estima de si mesmo, de tristeza, um mal-estar, fadiga e ansiedade. Será que qualquer reação do corpo ante um desconforto ou a angústia frente a uma situação já devem ser interpretados como uma doença?
Na nossa cultura atual não há espaço para o tristonho. Ela entende que esses momentos da vida humana são como uma espécie de “baixo astral” e assim, rejeita aqueles que se apresentam dessa maneira, pois supõe que deve imperar a necessidade de ser feliz.
Como nesse momento de pandemia, por exemplo, frente aos números de contaminados e de mortes pela COVID-19, como não ficarmos tristes? Só os negacionistas não se afetam. Vai-se vivendo o presente, e o que importa é o imediato. Acredita-se nas soluções rápidas para todos os problemas ou até que eles não existem, seria invenção sabe-se lá de quem.
Porém, deste modo não se permite qualquer elaboração mental. É frequente encontrarmos sujeitos em estado de sofrimento psíquico, identificados ao diagnóstico de depressão atribuído por médicos, colegas de trabalho, familiares ou até, testes de revistas. E desta forma, com um diagnóstico na “ponta da língua”, essas pessoas não se permitem sentir um mínimo de tristeza, desconforto e vão atrás de medicamentos que tirem de uma vez por todas suas dores e aflições. Vemos assim, o perigo de se medicalizar a tristeza.
Os psicanalistas dificilmente se colocam contra o uso de medicamentos. Mas é imprescindível que estes sejam utilizados de forma criteriosa, e segundo as indicações de cada caso. A psicanálise propõe que somente a fala poderá amenizar os efeitos reais que surgem e devastam o campo da subjetividade humana.
Quando a tristeza e a depressão são tratadas rápida e indistintamente, em que o sem-sentido, embora ignorado, insiste em emergir, o sujeito atual mostra seu desamparo.
A psicanálise entende que esse sujeito em estado de sofrimento psíquico é portador de algo que emergiu e se faz presente pedindo, em forma de sintoma, uma elaboração mental. Qual o sentido desse sofrimento mental em relação à própria história de vida?
Daisy Maria Ramos Lino
Psicanalista, membro do TRIEP
daisy_lino@hotmail.com
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