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Adolescência, escolha profissional e o fantasma do sucesso garantido


A escolha da profissão emerge em um momento no qual o jovem está submerso em um oceano de águas turbulentas. A viagem em direção à conquista da almejada condição adulta não é feita em meio a calmarias.


Adolescer significa trilhar um caminho em busca de uma identidade autônoma, em meio a crises caracterizadas por diversas perdas e vivências de lutos. Período repleto de descobertas, de contato com o novo. Contato que assusta sendo geralmente acompanhado de: medos, dúvidas e anseios.


Quando se escolhe uma profissão, se vislumbra, de forma mais concreta, a possibilidade da conquista de independência e individuação. Neste sentido, se vive um conflito entre o desejo de vencer na vida e o medo de perder um espaço já conquistado na infância, que lhe atribui identidade.


O desejo de ingressar no mundo adulto é um desejo coerente que traz na base o desejo de progredir. Sabe-se que, em última instância, este desejo significa separação psíquica, uma condição necessária para o adolescente em sua busca de autonomia.


A escolha de uma profissão pode ser entendida como o modo que o sujeito escolhe para se inserir no mundo e, através do trabalho escolhido, modificá-lo. Porém, em uma sociedade capitalista os sujeitos são movidos pela fantasia da completude e, nesse sentido, os pais desejam para si mesmos e de forma consequente para seus filhos o “sucesso” e a “felicidade”.


Na contemporaneidade, o sucesso desempenha no imaginário social o papel de nada mais nada menos que promotor de identidade pessoal. Com certeza, considerando o tempo que vivemos - marcado pela ênfase ao sucesso e a perfeição - a escolha profissional é um momento vivenciado, tanto pelo jovem quanto pelos pais, com muita angústia por ser encarado como se fosse um ato definitivo determinante por si só de um “vencedor” ou um “perdedor”.


Toda escolha provoca necessariamente uma renúncia; ao escolher abandona-se outra opção e isto pode provocar algum sofrimento, ainda mais quando se vive em um tempo em que para garantir nossa identidade, para sermos alguém, temos que ter sucesso.


A escolha de uma profissão não é um ato definitivo. Essa escolha não é prova de sucesso ou de fracasso algum; como também, as notas conseguidas na escola não dizem sobre isso. Tirar dez é a “certificação” de uma pessoa com um futuro brilhante? Perfeito? Não. Então, essa escolha envolve tantas coisas que ter dúvidas, não saber qual escolher é algo muito natural.


O mais importante é entender que ser jovem é ser, antes de tudo, alguém que começa a construir uma história e essa construção pode ter reviravoltas, surpresas e reavaliações. Porque, senão, não seria construção e sim algo já pronto... E quem já nasce pronto?


Como não se nasce pronto, não se nasce sabendo, tem-se que criar, inovar, refazer e modificar. Deve-se considerar que há um tempo necessário para buscar condições e estratégias com as quais se possam descobrir as aptidões, interesses e características de personalidade que se possui. Quer dizer, estar aberto, disposto para inventar sua própria vida.



Daisy Maria Ramos Lino

Psicanalista, membro do TRIEP.




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