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Amor, meu grande amor...

O amor já foi contado e cantado em verso e prosa, nas mais diferentes histórias de amor das quais temos conhecimento. Muitas são histórias com finais felizes e outras, nem tanto. Estas são marcadas pelo impossível da realização do amor, sempre havendo alguma situação de impedimento ou algo que separa e distancia os amantes. Exemplos disso são histórias que se tornaram ícones da literatura: “Simão e Teresa”; “Tristão e Isolda”; “Romeu e Julieta”; “Dulcinéia e Dom Quixote”... São várias as tentativas de escritores e cineastas em representar o impossível do amor ou mesmo de mostrar alguma faceta em que ele se torna possível.



Quando retratado, parece que o amor esteve sempre lá, pronto para se apresentar quando fosse convocado. Mas, ao contrário do que se possa pensar, não nascemos aptos à capacidade de amar. Vamos construindo tal capacidade ao longo de nosso desenvolvimento e, nesta construção, lidamos com muitos sabores e dissabores por “não estarmos prontos”.


A capacidade de amar tem sua origem em nossas primeiras relações familiares, nas primeiras experiências infantis com nossos pais, mais precisamente com a mãe (ou com quem ocupe esta função de maternagem).


São os cuidados iniciais com o bebê e todo o “banho de investimento amoroso” que a mãe é capaz de lhe dar que inundarão este corpo biológico do bebê de sensações prazerosas e de algo a mais que um cuidado puramente da ordem da necessidade.


Amar o bebê e ser capaz de investir nele sentimentos de amor, cuidado e dedicação são ingredientes importantes e necessários na construção da capacidade de amar deste novo sujeito. Ao sentir e perceber que é importante para alguém, o bebê também começa a observar, embevecido, a beleza e a complexidade deste outro que cuida dele. Da perspectiva do olhar deste pequeno ser, o outro lhe parece grande, lindo, completo. O encantamento é inevitável. Inaugura-se a equação da necessidade de amar e ser amado, inerente a todos nós... Equação para a qual passamos tempo procurando pelo que poderia ser sua solução: “encontrar a outra metade da laranja”, “a tampa da panela”, “um velho chinelo para um pé cansado”...


Depois deste primeiro encantamento, iremos, ao longo da vida, colocar à prova nossa capacidade de amar e de sermos amados. Buscaremos no outro, no “provável parceiro”, algum traço (ou um conjunto de traços) que para cada um de nós se estabelecerá como “a condição do amor”, aquilo que determinará nossa escolha amorosa e que estará intimamente relacionada com nossa história subjetiva.



A partir desta escolha, nem sempre seremos brindados com aquela mesma sensação de êxtase e completude que imaginamos ter vivenciado um dia, em nossas primeiras relações. Iremos nos deparar com decepções, exigências e em algumas situações parecerá que amamos mais do que somos amados... Quem vai saber dizer? O que precisamos aprender é como iremos, em nossas relações, passar daquele amor impossível para a invenção de um amor possível. Ou como afirma Jacques- Alain Miller: “os amantes estão, de fato, condenados a aprender indefinidamente a língua do outro, tateando, buscando as chaves, sempre revogáveis. O amor é um labirinto de mal entendidos onde a saída não existe”. Mas apesar de não existir, continuamos fazendo nossas apostas nesta construção, por vezes confirmando o que o poeta intuiu: "o teu amor é uma mentira que a minha vaidade quer. E o meu, poesia de cego, você não pode ver.(...) O nosso amor a gente inventa."


Leila Veratti

Psicanalista, membro do Triep





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