A formação do psicanalista ganha corpo a partir de sua análise pessoal, da supervisão de seus casos clínicos, do reconhecimento de seus pares e de seus estudos teóricos. Nesse percurso, a leitura é uma constante. Então hoje vamos de dicas de dois livros!
Em "Cartas a um jovem terapeuta", Contardo Calligaris apresenta temas importantes para quem está iniciando seu percurso como (psico)terapeuta. No formato epistolar, responde cartas de dois supostos terapeutas iniciantes, apresentando suas dúvidas e inquietações ligadas, por exemplo, à chegada do primeiro paciente; o que precisaria ser feito para ter mais pacientes; o que pensar sobre situações nas quais o paciente nos causa irritação ou nos dá sono; quais seriam as características (técnicas e humanas) importantes para aquele que pretende se tornar um psicoterapeuta...
Apresenta questões relacionadas ao diálogo da psicanálise com outras ciências, suas especificidades, bem como o conflito entre elas.
Destaca conceitos teóricos e técnicos, de uma maneira fluída, como quem considera e aconselha um terapeuta iniciante, esteja este interessado ou não, especificamente, na psicanálise, embora seu referencial parta daí.
Já o livro "Cartas a uma jovem psicanalista", de Heitor O'Dwyer de Macedo, embora apresente o mesmo formato, percorre um caminho mais específico. Ligando sua escrita mais diretamente à Psicanálise, o autor relaciona algumas teorias à prática analítica, apresentando ricas vinhetas clínicas e apontando questões bastante comuns, "respondidas" a partir de sua experiência como psicanalista. Afirma a importância de um posicionamento ético do analista, acreditando que este não se constitui sem considerar o encontro do analista com seus autores de referência e a experiência de sua própria análise.
Ao falar de seu processo de Formação, homenageia seus Mestres e conta sobre as heranças recebidas de cada um e a maneira como de como se apropriou delas, citando Françoise Dolto, Sándor Ferenczi, Piera Aulagnier, Joyce McDougall, Donald Winnicott...
Ao "responder" às cartas, estabelece um diálogo não só com a jovem psicanalista ficcional, mas também com seus pares. Retoma compreensões de textos freudianos, apresentando posicionamentos próprios e reservando lugar especial ao que considera primordial ao processo e trabalho analítico: a
presença da alegria e do humor, necessários ao trabalho de um "analista vivo", capaz de um trabalho de escuta e de reflexividade junto a seu paciente.
“Cartas a um jovem terapeuta” e “Cartas a uma jovem psicanalista” são leituras que fazem pensar diferentes momentos de um processo de Formação, destacando importantes conceitos e teorizações psicanalíticas. Vale conferir!
Leila Veratti
Psicanalista, membro efetivo do TRIEP leilacsantos@hotmail.com
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