É conhecida a admiração de Freud pelos artistas, acreditava que teriam passado pelas questões que ele buscava esclarecer e teorizar antes dele. Com os anos da psicanálise fazendo parte da nossa cultura a via inversa também se realiza.

Os artistas como todos nós, são interpelados pelas questões que existir como humano nos coloca. Vida e morte, de onde viemos, para onde vamos, nossos desejos, os obscuros, os proibidos etc. Eles buscam expressar, representar, aclarar, abstrair através de suas produções.
Caetano Veloso eternizou Narciso ao lembrar que este acha feio o que não é espelho. É possível supor que ao escutarmos a canção (Sampa) a frase remeta cada um à sua maneira, a curiosa e difícil relação com o próprio narcisismo. Ao nos encontrarmos frente às diferenças, frente à expectativa que se frustra, ao que se impõe como diferença: a mente apavora, diz ele.
Narciso, personagem da mitologia grega que Freud utiliza para falar sobre a constituição do Eu (sobre narcisismo sugiro também o artigo: www.triep.com.br/post/curar-se) e que podemos, a partir da frase da canção, dizer que somos mesmo sem perceber, remetidos ao narcisismo que nos constitui. Ao nos depararmos com aquilo que é diferente do que esperávamos, que não é espelho, sejam situações, pessoas, coisas às quais nos interessamos e nos ligamos.
Em outra canção, diz que deseja o desejo do menino do Rio (“pois quando eu te vejo eu desejo o teu desejo”) ao vê-lo sonhando com as ondas, com o Havaí, com todos os lugares que supõe desejarem seu olhar, que “seja aqui”, traz ele. Podemos pensar que “aqui” seja o poeta em seu apaixonado deslumbre dando destino à tensão que flutua. Pode ser também o desejo de que se realizem os desejos desse menino.
Desejar realizar o desejo do outro, tentar ter aquilo que se supõe ser o desejo do outro, na tentativa de sermos também desejados nos levam a águas que não refletem em espelho como na expectativa narcísica. O desejo sempre busca novas paradas e desencontros são certos.
Os artistas são esses que nos convidam a rever e revisitar o mundo através de suas criações, emprestam seu olhar e nos ajudam a suportar as dificuldades da vida. Do tratamento psicanalítico espera-se que proporcione algo parecido àqueles que buscam esse caminho, no qual o paciente se descobre criador ao nomear aquilo que antes era silêncio e a achar novas maneiras de visitar sua própria história.

Narcisismo e desejo são questões incontornáveis para todos e em especial para aqueles que se interessam em estudar psicanálise. Para estes recomendo os textos: Aos interessados em curso de psicanálise parte 1 e 2, da psicanalista Daisy Lino (www.triep.com.br/post/aos-interessados-em-curso-de-psicanalise e www.triep.com.br/post/aos-interessados-em-curso-de-psicanalise-parte-2) e o artigo da psicanalista Vera Iaconelli: Psicanalistas por atacado: a psicanálise tem gozado de enorme prestígio e popularização para o bem e para o mal, publicado na Folha de São Paulo em 8 de agosto de 2022.

Gustavo Florêncio Fernandes
Psicanalista, membro efetivo do TRIEP
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