CARTA AOS PAIS
Nesta época de covid-19, que nos traz tanta preocupação, é importante estarmos atentos de como as crianças reagem a esta pandemia, que é uma situação nova para todos nós.
É importante a criança falar como está triste, abalada ou preocupada com ela mesma, com os pais, com os avós ou com qualquer pessoa querida. Por isso, não peça a ela que não fale sobre isso ou que apenas pense positivo, no intuito de aliviar a sua dor. O problema não vai embora só pelo fato de não pensarmos ou não falarmos sobre o assunto. É melhor a criança falar que sofre e que se preocupa do que dizer a ela que nada está acontecendo. A negação da realidade não é uma boa solução. Caso ocorra, aguarde que uma hora ou outra ela vai mostrar sinais de seu incômodo.
Agora, se ocorrer de a criança ficar agressiva ou impaciente, os pais podem lhe perguntar se ela tem alguma preocupação ou por que está agindo desta forma, para que não fique simplesmente colocando a culpa nos outros. É bom ouvir o que ela tem a falar, mesmo que os pais não saibam exatamente o que lhe dizer para aplacar imediatamente sua dor.
A escuta do sofrimento lhe dá um lugar de existência, essencial para que encontre suas próprias respostas ao que lhe acomete sem que o mal-estar seja magicamente extinto. Coisas boas e ruins fazem parte da vida. É preciso dar um tempo necessário para que cada criança elabore, à sua maneira, suas preocupações.
A criança fala das mais diferentes maneiras: brincando, jogando ou contando histórias. A criatividade é uma boa solução para situações de crise.
Um bom indicador é se a criança está conseguindo pôr a sua imaginação para funcionar e não ficando apenas paralisada, apesar de também ser necessário ter momentos de reclusão e de tristeza.
Desta maneira, os pais podem ver alternativas, junto aos seus filhos, em como lidar com o que estão sentindo. Podem pedir para que as crianças desenhem algo, para que joguem jogos, que contem histórias engraçadas, de terror ou histórias que misturem aventuras de heróis e de monstros, o que é um bom jeito da criança encontrar um lugar onde pode colocar o mal (na figura de bruxas, bandidos, monstros, etc.).
Tudo isso pode ser feito via internet. Brincadeiras e jogos online, as crianças são boas inventoras!
É comum a criança inverter o lugar que ocupa na realidade quando ela brinca: ela passa a ser o professor, a médica, o socorrista, a bióloga, etc. A criança se sente mais potente ocupando um lugar ativo em suas brincadeiras, projetando no futuro o problema que se apresenta em sua realidade. Ela brinca de ser adulto.
Agora é a hora para compartilharem experiências com as famílias, coisas muito interessantes aparecerão!
Fabiana S. Pellicciari
Psicanalista, membro do TRIEP.
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