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Dos sonhos às rêveries

Atualizado: 16 de mar. de 2021

Os sonhos sempre foram uma temática de grande interesse da humanidade. Desde a Antiguidade Clássica, os processos oníricos chamam a atenção de curiosos, de pessoas comuns, de filósofos, demonstrando fazer parte de nosso capital cultural e trazendo em si a atribuição de diferentes sentidos e graus de importância, de acordo com o desenvolvimento das sociedades das quais faziam parte.


Com Freud não foi diferente. Um homem de seu tempo e sempre dialogando com as ciências e a literatura que o circulava, ele também se interessou pela temática dos sonhos e, partindo de sua clínica e de sua autoanálise, fundamentou uma teoria e um método de interpretação de sonhos, que culminou na publicação e certificação de nascimento da Psicanálise, a partir da Interpretação dos Sonhos (1900).


Na época, envolvido em sua clínica que, basicamente, tratava pacientes neuróticos, Freud atribuía aos sonhos o caminho mais importante de acesso ao Inconsciente. Eles revelavam a composição de um verdadeiro trabalho psíquico, articulado a um extenso trabalho de transformação e elaboração que tornavam os sonhos passíveis de serem decifrados e interpretados, sempre numa relação específica com a subjetividade de seu sonhador.


A hipótese freudiana a partir do campo da neurose, permitia a Freud atribuir a capacidade de sonhar como sendo de caráter universal. No entanto, as mudanças subjetivas e as novas formas de sofrimento psíquico, trouxeram para a psicanálise novas questões e, consequentemente, a necessidade de um desenvolvimento teórico, técnico e metapsicológico que permitissem ao analista escutar estas novas formas de subjetivação que, por vezes, escapavam do campo das neuroses.


Estas novas formas de sofrimento apresentaram em sua infinidade de organizações, a constatação de que nem todas as pessoas são capazes de sonhar, ou quando sonham, não conseguem se beneficiar de seus processos oníricos e das aberturas destes a uma possibilidade de pensamento e elaboração psíquica. No entanto, essa modificação verificada a partir da clínica, não nos faz descartar a importância dos sonhos enquanto material de trabalho analítico. Ao contrário!


A maneira como os sonhos são compreendidos ao longo da sua teorização na psicanálise desde Freud, nos fornece as ferramentas necessárias para o pensamento clínico e a condução do trabalho de escuta do analista, e sobre quando, como e de que forma ele é apresentado numa sessão.


Se antes, a partir da proposta clássica de Freud, o analista tinha à disposição a compreensão do trabalho do sonho, a partir de seus mecanismos de formação e deformação (pensamento onírico, condensação, deslocamento, figurabilidade, elaboração secundária), hoje podemos acrescentar a isso os processos dos quais o analista se ocupa de maneira mais implicada.


Ele parte de uma trama compartilhada para que se possa estabelecer um terreno de trabalho para a “plantação e colheita dos primeiros gérmens dos sonhos”: a rêverie, as imagens que ocorrem ao analista, fragmentos de sessões anteriores, trechos de músicas que ressoam... E que, depois de um longo e trabalhoso processo de condução mais ativa do analista, podem viabilizar que este espaço psíquico do sonhar se (re)estabeleça no analisando, reavivando nele sua capacidade de sonho e fantasia.



Se a psicanálise tem seu método de pesquisa baseado na experiência clínica e naquilo que emerge no setting analítico, é preciso considerar o que acontece em nossa prática clínica e no que escutamos a partir destas novas modalidades subjetivas. É nesse sentido que passamos de um tempo de sonhos para um tempo de rêveries. Tempos distintos, mas que devem considerar as diferentes manifestações do psiquismo e o modo como o paciente se instala na sessão analítica.


Para pensarmos sobre o que acontece a um sujeito quando, nas análises, verificamos que há nele uma espécie de impossibilidade em se constituir como um sujeito-sonhante; os modos como os processos oníricos podem se apresentar deficitários ou inexistentes e de que maneira isso impacta e modifica a função do analista na sessão, convido você a participar de nosso próximo curso “Atualizações em psicanálise: a experiência do sonhar na clínica psicanalítica – dos sonhos à rêverie”.

Saiba mais aqui no nosso site em:

https://www.triep.com.br/atualizacoes-psicanalise-sonhos


Leila Veratti

Psicanalista, membro do TRIEP.


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