Há muitos pais que dizem não suportar ver seus filhos sofrendo dizendo que tal sentimento poderia causar algum tipo de trauma em suas crianças. Diante dessas situações, colocam-se em uma atitude de superproteção para tentar evitar possíveis embates que seus filhos possam vir a ter com o mundo, com um consequente prejuízo que entendem poder haver para o desenvolvimento emocional dos pequenos. Acreditam que seus filhos não conseguem lidar com tamanho desprazer que certas situações difíceis lhes causam. Será mesmo que não conseguem?
Caminhamos no mundo a partir de certas referências que nos fazem reconhecer o nosso entorno para sabermos por onde melhor nos situarmos. O sofrimento decorre, em boa parte, de momentos de certa suspensão destes pontos que nos orientam e que nos são conhecidos. Podemos perceber como muitas vezes evitamos o inesperado, preferindo a certeza do próximo passo ao risco de uma situação nova que se apresenta diante de nós.
O sofrimento é algo que precisa ser compartilhado com uma outra pessoa para que possa encontrar uma expressão que faça sentido para aquele que se vê acometido por algum acontecimento doloroso. Precisamos dos outros para que possamos lançar nossas perguntas mais fundamentais diante de certos fatos que retiram de nós as nossas certezas prévias: situações de morte de um ente querido, perda de algo ou alguém que nos é especial ou mesmo qualquer situação que nos coloque diante do desconhecido e que precisam ser simbolizadas. A melhor saída não é evitá-las, já que a vida comporta um tanto de desprazer e dor.
E as crianças têm a capacidade de lidar com sentimentos dolorosos e difíceis desde muito cedo, diferentemente do que seus pais possam acreditar, muitas vezes. Obviamente que tais sofrimentos precisam ser ponderados, validados e nomeados por seus cuidadores, mas não evitados. Tristeza, dor, frustração e toda uma série de sentimentos que precisam ter um lugar de expressão junto ao adulto responsável pela criança para que ela entenda que pode sentir-se acolhida em situações de dificuldade, sem que a resposta ao seu sofrimento seja aplacada de imediato.
As crianças aprendem quando se veem diante de obstáculos, mostrando o quanto não devemos facilitar de modo a darmos aos pequenos tudo em suas mãos; se assim agimos, eles poderão crescer com a sensação de incapacidade e fraqueza diante de situações difíceis da vida. É preciso que as crianças se movimentem e encontrem saídas que lhes sejam próprias e dentro do seu tempo, sem que os pais façam tudo por elas. Elas sentirão desconforto nesse processo? Elas precisarão lidar com certas doses de sofrimento? Sim, para que possam confiar na própria capacidade de lidar com seus problemas futuros.
Fabiana Sampaio Pellicciari
psicanalista membro do TRIEP
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