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INVÍDIA

Um dos sete pecados capitais para a tradição católica, é um sentimento complexo e não goza de boa reputação. Há aqueles que afirmam não tê-la e outros que acreditam ter aquela que chamam de “boa”.


Admitir inveja de outrem não é algo fácil de se revelar publicamente, daí pode-se lançar mão, defensivamente, das qualificações “boa” ou “saudável”. Como inveja é só inveja, não tem boa nem má.




O interessante é que conseguimos confessar várias emoções como o medo, o amor, a esperança ou até o ciúme. Ela não, é vergonhosa.


A inveja traz consigo sentimento de inferioridade, dificuldade de aceitação, um sentimento de destino injusto e desejo ardente por algo de terceiros.


Ela tem parentesco com o desejo e a agressividade. Seu alvo é indeterminado, variando do “qualquer coisa” ao “tudo”. Não é um sentimento simples, possui fatores ligados à intensidade e envolve um conflito emocional.


Nela há uma intensa dor psíquica consumindo a mente, o invejoso movido pelo ódio procura destruir a alegria alheia. O objeto da inveja é um objeto imaginário, uma fantasia de totalidade. Inveja-se algo que se supõe dar ao seu dono - o invejado - um estado de felicidade, de completude.


O coração do invejoso palpita por um bem que não pode ser compartilhado. Palpita não pela necessidade de ter o que o outro possui, mas pela necessidade de sentir o mesmo prazer, alcançar o mesmo nível de felicidade que supõe ver nesse outro.


O invejoso atribui ao outro um estado de que se imagina privado (“você tem tudo”), e passa a associar este estado à posse de um “algo”, uma espécie de amuleto, do qual é obrigatório privar o outro seja por que meio for (“e eu terei isto...”).


Todos os seres humanos sofrem de inveja, faz parte da natureza humana. Parafraseando Honoré de Balzac, romancista francês:

É tão natural destruir o que não se pode possuir, negar o que não se compreende e insultar o que se inveja”.


Podemos afirmar que a inveja é de início inevitável, mas superável ao longo da vida. Em nossa infância desconhecemos a limitação, a imperfeição e a finitude como características dos seres humanos. Criamos a ilusão de completude, de onipotência e a descoberta de que não é assim, costuma ser extremamente dolorosa e suscita angústias de extraordinária intensidade.


A fantasia de completude, de onipotência, de tranqüilidade de espírito, não será eliminada com a descoberta que não se é autossuficiente. Ela irá se deslocar para outros setores da vida psíquica. Com isso, tudo aquilo que contribuir para dar a impressão de autossuficiência é passível de ser entendido e fantasiado como uma encarnação dessa ilusão infantil, por exemplo: a inteligência, o saber, o poder, o sexo, o corpo, a beleza ou a independência de quem “se basta a si próprio”.


A intensidade da inveja vai depender de como se deu o relacionamento da criança com aqueles que cuidaram dela durante o processo de diferenciação entre o seu eu e o outro.




Vale ressaltar que a inveja pode ter características construtivas. Isso pode acontecer quando, por exemplo, um indivíduo deseja adquirir para si qualidades, bens e posses que admira no outro através de seu próprio esforço. Nessa situação o objeto da inveja torna-se um modelo a ser seguido. Com isso torna-se um sentimento estimulante, aumentando o sentimento de ambição e a competição saudável para obter o que deseja.


Como não é possível evitar sentir inveja, devemos-nos preocupar com aqueles que não conseguem controlar seus sentimentos prejudicando os demais. São pessoas que ao depreciar seu objeto de inveja acabam por destruir suas próprias relações interpessoais ou de trabalho.


Existem, também, aqueles que sentem inveja e sofrem com isso, sem fazer nada para mudar suas atitudes. Normalmente são amargos e ansiosos. Fazendo papel de vítima, provocam no outro sentimento de culpa pelo sucesso obtido e, muitas vezes, com dificuldade em aceitar seu sentimento procuram bajular o objeto de inveja, depreciando-o quando da sua ausência.


Estas diferentes expressões da inveja indicam que as formas de fazer frente a ela podem ser construtivas ou destrutivas e, ela evoluirá para um lado ou outro dependendo da intensidade do conflito intrapsíquico. Para uma saúde mental lúcida, cuide bem da sua inveja.



Daisy Maria Ramos Lino

Psicanalista membro do TRIEP


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