Uma criança obediente é sempre motivo de orgulho para os pais, mas não é o que muitas vezes ocorre com seus próprios filhos. Estes pais olham para outras crianças nos shoppings e nas ruas que se mostram comportadas quando são repreendidas, sem manifestar nenhum tipo de enfrentamento ou gritos de desobediência, e as compara com seus próprios filhos. Ainda mais quando costumam fazer a maior birra!
Muito se diz a respeito de crianças que enfrentam os pais e que têm dificuldade com as regras. Parece que o oposto deste tipo de comportamento é o que seria o adequado, isto é, que as crianças passassem a respeitar os limites imediatamente. Porém, o excesso de submissão às regras e às leis também é um problema.
Crianças com alto grau de obediência não indica, necessariamente, que estejam caminhando bem em seu desenvolvimento emocional. Afinal, quando elas nunca podem reclamar, protestar, chatear-se com as regras que lhes são impostas, como poderão encontrar um lugar onde possam manifestar-se verdadeiramente de acordo com o que estão sentindo nessas situações?
Por essa razão, é importante que possamos pensar qual o nível de obediência que se espera dos filhos. Seria ao ponto de fazer com que eles nunca reclamassem? Ou será que seria permitido a eles fazer algum tipo de contestação, mesmo que acatassem as ordens?
É fácil imaginar a dificuldade de certos adultos que não conseguem se posicionar em situações de decisão, por exemplo. Pessoas acostumadas a seguir as ordens dos outros, sem nunca falar exatamente o que pensam, acabam tendo dificuldade quando são chamados a opinar sobre algo que realmente tem importância em suas vidas. Isto ocorre porque precisam sair dos bastidores e ocupar um lugar central quando passam a falar por si mesmos. E como tal situação pode ser difícil!
Com as crianças não é diferente. Obviamente que, ao serem cuidadas por adultos, têm uma série de decisões que não compete a elas. Porém, elas têm direito a manifestar suas opiniões acerca do que lhes dizem respeito. Assim, mesmo que obedeçam aos adultos e acatem suas ordens, é importante que possam se mostrar chateadas no caso de não poderem fazer o que gostariam.
Desta forma, seria importante dar lugar para os vários sentimentos que as crianças sentem quando seus desejos não são atendidos, reservando um lugar para que possam se expressar, sem, contudo, causar mal à terceiros: não vale bater no amigo ou quebrar algo por simples birra. Trata-se da possibilidade de poderem se expressar e não de agir por represália.
Um exemplo pode ser quando um filho não sai para um passeio que tanto gostaria ficando chateado e querendo ficar sozinho por um certo tempo, após o qual, volta para sua vida cotidiana sem prolongar em demasia neste seu estado de frustração.
Assim, mostrar indignação, chateação ou certa irritação frente a uma ordem é sinal de que a criança se sente autorizada a se expressar, ao invés de apenas cumprir exatamente o que lhe foi pedido com extrema resignação. Porém, obviamente que este estado deve durar um certo período e servir para fins de elaboração de situações difíceis na vida de qualquer criança.
Fabiana S. Pellicciari
psicanalista, membro efetivo do TRIEP
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