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O excesso de tarefas do dia a dia

Quem nunca se aborreceu ou se sentiu angustiado com as várias tarefas do dia a dia? É comum nos queixarmos sobre o tanto de coisas que temos a fazer sem muitas vezes saber por onde começar. Pegar o filho na escola, boletos para pagar, ter um tempo para namorar, cuidar da casa e do trabalho. Tudo isso somado com as várias demandas que temos que resolver de última hora e que não estavam programadas.



Entre momentos nada agradáveis e outros de prazer, temos de dividi-los de alguma forma. Quais são prioridades? O que podemos deixar para lá ou ainda adiar? Como intercalá-los? Soma-se a isso tudo a correria do cotidiano e a possibilidade que qualquer pessoa tem para nos contactar via as redes sociais ou pelo celular, já que estamos conectados praticamente o tempo todo.


Como bem notou David Le Breton, antropólogo e sociólogo francês, em seu livro Desaparecer de si: uma tentação contemporânea, “a insuficiência é para a pessoa contemporânea o que o conflito era para a da primeira metade do século XX” (p. 10). Esta citação nos faz refletir como a insatisfação passa a ser uma constante em um mundo veloz como o nosso, onde fazemos muitas coisas ao mesmo tempo sem que possamos, muitas vezes, concluir todas elas. Fica sempre aquela sensação de que falta algo e uma possível sensação de incompetência.


O resultado desta luta diária entre o que deveríamos fazer e o que de fato realizamos acaba se refletindo em um excesso de responsabilidade sobre nossas costas e no inevitável sentimento de incapacidade, podendo gerar uma angústia muito intensa a depender do tamanho do ideal que nos imputamos a ter que atingir, ou seja, qual a altura da perfeição que acreditamos ter de alcançar.

Mais uma vez, como diz Le Breton:


“Em uma sociedade onde se impõem a flexibilidade, a urgência, a agilidade, a concorrência, a eficácia etc., ser si mesmo já não é algo evidente visto que a todo instante urge expor-se ao mundo, adaptar-se às circunstâncias, assumir sua autonomia, estar à altura dos acontecimentos. Já não basta nascer ou crescer, é preciso construir-se permanentemente, manter-se mobilizado, dar sentido à vida, fundamentar suas ações nos valores. A tarefa da individuação é árdua, sobretudo quando se trata de ser exatamente si mesmo”. (p. 10).


Em nossa época pós-moderna, quando a noção de identidade entra em crise e precisamos nos reinventar constantemente, nem por isso a exigência ao que fazemos se tornou menos intensa. Em um mundo onde tudo está conectado, acabamos sofrendo pelo excesso de possibilidades de tudo o que nos chega: temos acesso às mídias sociais, aos canais de notícias e entretenimento etc., nos causando angústia justamente por tentarmos barrar este excesso de coisas.


Diante de tal acúmulo de informações e das melhores dicas e sugestões de como devemos nos portar, podemos nos apegar a estes vários ideais disponíveis, afinal não são poucos os canais que nos bombardeiam todos os dias com todo esse material. Acreditamos que para termos sucesso precisamos somar, acumular.



Ao contrário, para termos a possibilidade de usufruir das nossas conquistas, precisamos aprender a perder. Precisamos parar, remanejar, dividir e deixar algumas coisas para lá para podermos avançar. Ou seja, é preciso rever a antiga concepção de eficiência.


Para tanto, precisamos refletir sobre quais são os nossos ideais, ou seja, qual é o patamar que acreditamos ter de atingir para que possamos nos sentir minimamente satisfeitos; se tal satisfação de fato pode ser alcançada ou se nos entregamos a outras tarefas sem cessar e sem a menor possibilidade de descanso.



Fabiana S. Pellicciari

psicanalista, membro efetivo do TRIEP

fabiana.pellicciari@gmail.com


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