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O preço a ser pago pela imagem "maravilhosa" de si mesmo

As mídias sociais podem provocar efeitos deletérios, tão conhecidos por todos nós, quando certas pessoas se defrontam com fotos de outros que precisam se mostrar em lugares e situações que confirmem a suposta vida perfeita que possuem. Corpos perfeitos, praias paradisíacas, casas luxuosas ou perto de uma natureza invejável, tudo se mostra no superlativo. Nada parece escapar a uma imagem que ilustre modos de vida sem nenhum tipo de problema, onde todos os prazeres são possíveis. Enfim, são imagens que vendem um jeito de viver de causar inveja aos reles mortais.



Que lugar é esse, tão inacessível às pessoas comuns? Que ideal está sendo construído nessas imagens que traçam uma régua para medir a distância entre uma vida repleta de maravilhas e o mundo da vida banal?


O que muita gente não vê é que, aqueles que procuram vender essas imagens supostamente perfeitas de si mesmos, também estão sendo capturados numa lógica na qual eles próprios são prisioneiros. Sentem precisar corresponder a tais imagens projetadas sobre si mesmos, como se não tivessem falhas. Porém, o que está sendo postado são imagens e não a vida com toda a sua pulsação e movimento, que obviamente mostra-se cheia de imprevistos, incoerências e incompletudes.


As imagens têm uma característica peculiar: são fixas. E mais do que simplesmente se limitarem às fotos tiradas em uma câmera fotográfica, podem ser aquilo que queremos passar aos outros, como se tal identidade criada dissesse tudo sobre nós. Por essa razão, as imagens se limitam à pontualidade daquilo que expressam, podendo nos iludir de que somos aquilo que está diante de nós mesmos naquele exato instante, sem nenhuma possibilidade de mudança.


O problema começa a se complicar quando não conseguimos mais sustentar tal imagem de nós mesmos. Afinal, como podemos ser tão “perfeitos” e “maravilhosos” o tempo todo? O preço a pagar pode ser bem alto, porque não podemos falhar nunca!


Um antigo vídeo da banda americana Evanescence, “Evereybody’s fool”, ilustra bem esse tipo de conflito com a própria imagem, um tanto expresso neste trecho da música abaixo (com a tradução livre):


Look here she comes now

Bow down and stare in wonder

Oh how we love you

No flaws when you're pretending

But now I know she

Never was and never will be


Olha, aqui vem ela agora.

Curve-se e olhe maravilhado

Ah, como nós te amamos

Sem falhas quando está fingindo

Mas agora eu sei que ela

Nunca foi e nunca será.


Link para o video:


Essa dicotomia é vivida pela personagem da vocalista da banda, Amy Lee, uma mulher linda, que participa de diversos anúncios de publicidade, vendo-se diante de tais imagens que correspondem a um padrão que ela própria não se reconhece, escondendo um sofrimento pela qual passa sem nada se assemelhar com a pessoa dos anúncios de propaganda.



Percebemos como tal padrão a ser atingido também pode ser de grande sofrimento para aqueles que são a sua maior expressão: as pessoas “maravilhosas” que nunca conseguem frustrar o alto padrão criado sobre si mesmo. Ou seja, é preciso retirar o peso de tais modelos rígidos e fazer cair essa imagem intocável: é preciso deixar-se falhar.


Mas cuidado! Deixar-se falhar é possibilitar oscilar no movimento pulsante da vida que comporta acertos e erros, sem ter que cair na armadilha de ser um completo “imprestável”, o que indica a fixação em outra imagem de si mesmo, mais uma vez rígida e imutável.


Fabiana Sampaio Pellicciari

psicanalista membro efetivo do TRIEP

#pessoasmaravilhosas #redesocial



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