Há quem pense que análise ou psicoterapia é só para loucos, como se não houvesse sofrimento psíquico e loucuras em todos.
O ponto é que sofremos e em determinado momento da vida o sofrimento psíquico manifesta-se sob formas e intensidades variadas: depressão, tristeza, apatia, paralisia, inibição, busca de identidade, somatizações, obsessões; entre tantos outros sintomas.
Perguntas passam a atormentar sobre as incompreensíveis repetições no viver que fazem sofrer e, é um transtorno não localizar os motivos das angústias.
A psicanálise mostrou que agimos, sonhamos, fazemos sintomas e atos falhos sem saber o porquê, sem conseguir ter um controle racional da nossa mente. Ou seja, o ego não é senhor em sua própria “casa”.
“Existo também onde não penso”: trata-se do sujeito não da desrazão e sim da razão inconsciente. O inconsciente é um sistema psíquico distinto dos demais, sua lógica de funcionamento é apreendida pelo método psicanalítico.
O método psicanalítico, desde seus inícios, é um tratamento baseado na fala. É trabalho de fazer falar, e fazer ouvir.
A fala tem efeito transformador da nossa realidade psíquica e consequentemente de como vivemos no mundo. Em seu texto de 1926, A questão da análise leiga, Freud escreve:
“...não desprezemos a palavra. Ela é um instrumento poderoso; é o recurso pelo qual comunicamos nossos sentimentos uns aos outros, é o caminho pelo qual influenciamos o outro. Palavras podem ser benfazejas e podem ferir terrivelmente. É verdade que no princípio era o ato, a palavra veio depois, sob certas circunstâncias foi um progresso cultural quando a ação se reduziu à palavra. Mas a palavra originalmente era magia, um ato mágico, e ainda preservou muita sua antiga força.”
Quer dizer, a pessoa mesma ao falar produz efeitos terapêuticos. E, também, precisa, ao buscar análise, crer que aquilo que acontece com seu corpo, com seus sofrimentos psíquicos, possui conexão com sua história pessoal, portanto, está implicada e tem responsabilidade nos seus sintomas.
Pode parecer estranho pensar que somos nós os responsáveis pelos sofrimentos psíquicos que nos acomete, que todas as articulações, todas as relações nas quais estamos envolvidos nos levam muitas vezes a determinados sofrimentos.
Quando fazemos análise nos damos conta de que não estamos recuperando uma saúde perdida. Continuamos angustiados, continuamos desejantes, mas conseguimos, de alguma forma, lidar com isso de uma maneira mais criativa, sem impedimentos e bloqueios da nossa produtividade.
A análise, no dizer do psicanalista Contardo Calligaris: "Serve para diminuir ao mínimo possível o sofrimento neurótico e o sofrimento banal, ou seja, reduzi-los ao que é totalmente inevitável; serve para tentar reorientar ou desorientar a vida da gente –desorientar é uma maneira de orientar! Enfim, serve para tornar a experiência cotidiana muito mais interessante. Pensando bem, quase tudo se inclui nessas três coisas...”
É um processo lento e extremamente singular. Gera bons frutos, ajuda: a quebrar as ilusões, inclusive as que temos a respeito de nós mesmos; a ter um olhar mais crítico sobre nós mesmos e a construir um estilo de vida que se conecte melhor com o nosso jeito de ser; a conviver e a lidar com o sofrimento da existência humana.
Ao fazer análise, investigamos nossa subjetividade e essa investigação é uma investigação que se realiza de uma maneira nova, que nunca havia sido feita antes e que exige condições especiais: falar a um psicanalista.
Ir para o divã é descobrir quais são as causas do mal-estar e, também, aprender que o destino não está escrito, nem nas estrelas. Cada um constrói sua história com gramática e escrita próprias.
Desatar os nós para voar.
Daisy Lino
psicanalista membro do TRIEP
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