André Green nasceu em março de 1927 no Cairo, Egito. Desde muito cedo sentia-se atraído pela França e pela língua francesa. Neste país, fez seus estudos em Medicina e sua formação como psicanalista, bem como suas análises pessoais.
Sempre foi reconhecido como um psicanalista intransigente, devido ao rigor de suas colocações e pelo seu compromisso ético com a psicanálise. Sua inserção no meio psicanalítico se deu lentamente e “sua entrada na Sociedade Psicanalítica de Paris provocou polêmicas entre seus colegas pelo grande rigor no plano ético e humano e pela extrema fidelidade a Freud. Mas conseguiu tornar-se membro titular e depois presidente da SPP, em 1987. Com os anos, Green conseguiu ter mais serenidade, mesmo sem ter perdido seu gosto pelo debate, até mesmo pela polêmica.” (I. Paniago)
O envolvimento com estudiosos do quilate de Lacan, Klein, Winnicott e Bion e o mergulho em suas teorias, não fez com que Green aceitasse passivamente seus pontos de vista e afirmações. Ao contrário, seu pensamento crítico e voracidade investigativa, o colocou em franca verificação clínica e metapsicológica dos conceitos para, ao longo do tempo, discutir, confirmar ou mesmo refutar aquilo que aprendeu de seus mestres e contemporâneos. Bases que fortalecem e orientam sua obra, hoje reconhecida como um dos pilares para o pensamento da psicanálise e da clínica contemporânea.
Em seus estudos, André Green buscava aprofundar-se na compreensão da vida emocional primitiva, os processos iniciais de constituição do psiquismo, e a questão dos afetos, com o intuito de trazer subsídios para sua atividade clínica. Esse interesse, propiciou a Green envolver-se com temáticas que relacionam os processos iniciais da constituição do psiquismo e as patologias daí decorrentes.
Seu pensamento é frutífero no que diz respeito ao diálogo estabelecido com diferentes correntes e escolas psicanalíticas, e na interlocução com autores da atualidade, possibilitando-nos avançar nas questões colocadas pela clínica contemporânea, acompanhar seu desenvolvimento, e reconhecer ainda assim, suas bases freudianas no que remete à necessária metapsicologia. É na chave de leitura freudiana que Green lê seus mestres, cria e desenvolve seu pensamento singular.
Numa ocasião, foi perguntado a Green qual era a novidade em Psicanálise. Sem titubear, Green responde: Freud! É nessa referência ao inventor da Psicanálise, na germinação de sementes colocadas a partir de sua obra e na continuidade dos caminhos que, a Freud, não foram possíveis percorrer, que André Green retorna e cria um pensamento independente.
Em seus trabalhos teóricos e clínicos, Green aprofunda-se na metapsicologia freudiana e trabalha “temas como o afeto, os casos-limite, a clínica do vazio, a teoria do negativo, o narcisismo negativo, a alucinação negativa, a psicose branca, o irrepresentável e a pulsão de morte, a mãe em todos os seus estados (mãe morta, mãe fálica, mãe negra), funções objetalizante e desobjetalizante, e a terceiridade” (I. Paniago)
Estes temas contribuem efetivamente com o pensamento sobre a psicanálise contemporânea e sua clínica, e revela as influências dos pensadores com quem Green mais dialogou. Suas proposições nos levam a refletir sobre a transmissão da psicanálise e nos possibilita, enquanto analistas, a repensar o enquadre e a conjugá-lo a partir das “novas” patologias clínicas, de modo a viabilizar o desenvolvimento de um processo analítico.
É nessa esteira que André Green (1927-2012) se constitui como um importante pensador da psicanálise contemporânea, tendo contribuído de forma bastante original para seu desenvolvimento, apresentando, ao longo de seu percurso, uma obra reconhecida em sua densidade e relevância.
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Leila Veratti
Psicanalista, membro efetivo do TRIEP leilacsantos@hotmail.com
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