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Setembro Amarelo

Freud em "Reflexões para os tempos de guerra e morte" (1915), escrito quase vinte anos antes das reflexões que fez em uma carta resposta à pergunta dirigida a ele por Albert Einstein - “Por que a guerra?”, apontara sobre a nossa relação com a morte:



“De fato, é impossível imaginar nossa própria morte e, sempre que tentamos fazê-lo, podemos perceber que ainda estamos presentes como espectadores. Por isso, a escola psicanalítica pôde aventurar-se a afirmar que no fundo ninguém crê em sua própria morte, ou, dizendo a mesma coisa de outra maneira, que no inconsciente cada um de nós está convencido de sua própria imortalidade.”


Essa descrição de Freud aponta para as características presentes em todos: não cremos na própria morte, mas vivenciamos angústias aniquiladoras.


O assunto do suicídio é polêmico, tratado com cuidado, reservas e até como uma espécie de tabu, do mesmo modo como geralmente não abordamos a questão da morte, da velhice, enfim, as coisas que significam a finitude do ser.


Existir traz consigo uma inevitável dor. Certa dor é constituinte da nossa subjetividade, aquela que diz respeito à nossa insuficiência. Tentamos, cotidianamente, várias maneiras de aplacar esta dor, por exemplo, através do frenético consumo de objetos e substâncias (roupas, carros, drogas, antidepressivos, etc.). Frente a essa dor, uma saída última e radical encontra sua forma através do suicídio.


No ato suicida estão presentes características psíquicas, como as angústias primitivas, as fantasias simbióticas e a destrutividade, elementos cujas compreensões teóricas e manejos clínicos encontram-se entre os interesses dos psicanalistas.


As causas de suicídio são várias e também variam conforme as diferentes culturas. Um suicídio motivado por um ideal – por exemplo, o religioso – é diferente daquele realizado pela ausência de qualquer ideal ou do praticado por vingança. As pessoas em torno (familiares, amigos, profissionais) da vítima do suicídio se indagam sobre o que poderiam ou não ter feito para evitar, buscam entender o porquê e sentem-se, muitas vezes, culpados.


Para muitas pessoas, aquele que abrevia a própria vida é visto como um covarde, insano e egoísta. Enfrentar a morte “natural” de um próximo não é a mesma coisa que enfrentar a morte por um ato suicida, sem dúvida.


A morte é por si só da ordem do indizível. Costumamos recalcar o fato da nossa morte, da nossa finitude, justamente para podermos viver. Não ficamos pensando sobre nossa morte o tempo todo, o que dificultaria o viver.

As tentativas de suicídio são atos e condutas que de forma manifesta, ou não (podem ser manifestações inconscientes não percebidas claramente), colocam a vida em risco. Estas tentativas são por vezes claramente identificáveis ou podem se apresentar através de comportamentos de risco. Dirigir perigosamente, provocar situações de briga, atividades de risco, esportes perigosos sem o devido cuidado e treinamento, acidentes repetidos, situações em que a saúde é exposta, enfim, uma série de comportamentos que podem demostrar essa perspectiva.



O suicídio, na verdade, pode ser definido quando as tentativas suicidas, consciente ou inconsciente, se realizam ou obtém “êxito”. Freud assinalou que “.... não se pode esquecer que o suicídio não é nada mais que uma saída, uma ação, um término de conflitos psíquicos".


O ato suicida é a expressão de uma singularidade, de uma história de vida, circunstâncias socioculturais e fantasias sobre a morte. O que pode ser considerado a "causa" do ato, para supostamente se tentar explicar seu enigma e/ou apressadamente classifica-lo como fraqueza ou covardia, é no mínimo ingênuo. Seu desfecho é apenas e fatalmente o elo final manifesto de uma complexa rede de fatores, entre os quais muitos nunca serão identificados.



Daisy Lino

Psicanalista, membro efetivo do TRIEP

daisy_lino@hotmail.com


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