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Sobre a maternidade: uma tecitura possível

  • Foto do escritor: Triep
    Triep
  • 21 de out. de 2021
  • 3 min de leitura

Atualizado: 15 de nov. de 2024

“O amor materno é apenas um sentimento humano. E como todo sentimento, é incerto, frágil e imperfeito. Contrariamente aos preconceitos, ele talvez não esteja profundamente inscrito na natureza feminina.” (E. Badinter)



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Com afirmações como esta, há pouco mais de uma década, a filósofa e historiadora francesa Elisabeth Badinter, provocou ruído em algumas crenças com a publicação de seu livro “Um amor conquistado – o mito do amor materno”. Nele, ela traça um percurso a respeito do imaginário coletivo que considera o amor materno como algo instintivo e natural; questiona sua fundamentação ao trazer aspectos relativos às construções sociais, modificadas e/ou revalidadas ao longo do tempo. E ainda aponta as ressonâncias que estas construções apresentam em nossos dias, fazendo com que, ainda hoje, haja desconforto quando este mito é minimamente relativizado.


Engrossando o caldo que questiona esse mito e ganhando cada vez mais espaços nas redes sociais, cresce a quantidade de perfis que abordam a temática de uma “mãe não ideal”. Quando esta sai de cena, surge seu contraponto quase que exato, o da “mãe imperfeita”, sugerindo que oscilamos entre um polo e outro, sem muitas vezes conseguir circular pelo que poderíamos dizer de uma “maternidade possível”, da “mãe que se consegue ser”. E entre um perfil e outro, entre uma rolagem de dedos e outra, as mães “reais e possíveis” estão cada vez mais abarrotadas de culpa, de vergonha, exaustas, deprimidas, insones... quase não podendo confessar a si mesmas o quanto esta função lhes é desgastante, muitas vezes frustrante e, algumas vezes, nem de longe beira o ideal que um dia sonharam.


Se uma mãe não existe desde sempre e a maternidade é uma construção e, como toda construção, é um processo, um vir a ser, como temos participado (coletivamente) dessa construção em nosso tempo? Se em nossa cultura, a maternidade ainda é vista e apresentada de modo bastante idealizado, com o retrato de mães sempre muito felizes, extremamente intuitivas, poderosas, seguras, assertivas, que lidam muito bem com suas funções de mãe-mulher-esposa-executiva-esportista-blogueira-instagrammers, de algum modo contribuímos para que neste imaginário não haja lugar para a dúvida, o cansaço, o sobressalto, o pedido de ajuda. Como se estes “reveses” não coubessem em uma maternidade plena e significassem a anuência de um certo fracasso em ser mãe.


Ainda é muito comum que questões relativas à maternidade, quando iluminadas em seus aspectos mais espinhosos, sejam silenciadas, pouco faladas, pouco divulgadas, seguidas de olhares esgueirados e até com certo ar de reprovação. São questões vividas por toda mãe, mas quando mencionadas, continuam a causar espanto. Como se não estivéssemos habituados a acreditar que nem só de amores e flores e potência vive uma mãe.


Para se tornar mãe, uma mulher atravessa um longo percurso, passa por um processo de transformação e elaboração psíquica que diz respeito a, no mínimo, três aspectos: a transformação da filha (que ela era até então) em mãe, a transformação da sua imagem corporal e a relação entre a maternidade e a sexualidade. São momentos que requerem uma reorganização psíquica e que cada mulher vivenciará de uma forma diferente, mas não sem sofrimentos.


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Dependendo do modo como estes processos são realizados psiquicamente, eles podem desencadear quadros clínicos que, embora pouco conhecidos e divulgados, são mais frequentes e comuns do que pensamos e variam em intensidade, tempo e gravidade. Se antes ouvíamos falar dos quadros conhecidos como “baby blues”, hoje tem sido frequente falar em bornout materno... Dar lugar e legitimidade ao sofrimento da mãe, além de uma escuta que permita resgatar os elementos importantes de sua história de vida e a aproximar-se dos sentidos de sua maternidade, propiciam que esta possa ser exercida a seu modo, com todas as suas capacidades e limitações. Por não caber no campo dos ideais, a maternidade não tem receitas, cada mãe se faz a si própria no encontro único com aquele filho em específico. Para cada filho, há uma mãe possível, uma maternidade viável e a possibilidade (ou não) de que a “mãe que se consegue ser”, seja uma mãe suficientemente boa, envolvida em sua função e banhada por seu desejo-de-filho.




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Leila Veratti

Psicanalista, membro do Triep leilacsantos@hotmail.com



 
 
 

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