A etimologia da palavra solidão é referida a “só”, termo que, por sua vez, vem do latim solus e pode significar tanto “desacompanhado” e “solitário” como “único”.

A solidão é ambígua, pode possibilitar a criação artística, mas, também pode ser causa de sofrimento. É inerente aos humanos, seus significados se modificaram ao longo da história lhe dando sentidos, ora positivos, ora negativos, dependendo da cultura.
Em termos psicológicos, a solidão pode caracterizar-se pela ausência afetiva do outro e estar intimamente relacionada com o sentimento, com a sensação de se estar só. O outro pode até estar próximo geograficamente, mas não há aproximação psicológica; faltam interação e comunicação emocional. A solidão pode ocorrer tanto na presença quanto na ausência do outro.
Nesse sentido, diferentemente do que muitos pensam a solidão não tem a ver com as ausências/presenças dos outros em nosso cotidiano, em nossa vida.
Melanie Klein, psicanalista da escola inglesa de Psicanálise diz: “Por sentimento de solidão não estou me referindo à situação objetiva de ver-se privado de companhia externa, mas sim à sensação interna de solidão, à sensação de estar só sejam quais forem às circunstâncias externas, de sentir-se só inclusive quando se está rodeado de amigos ou se recebe afeto. É um estado de solidão interna... produzido pelo anseio onipresente de um inalcançável estado interno perfeito”.
É um sentimento possível a todos os indivíduos, mesmo que vivenciado em medidas diferentes.
Essa possibilidade de estar só consigo mesmo não necessariamente é algo ruim. Pode ser considerado, também, um benefício que todos têm a seu favor: “A capacidade do indivíduo de ficar só [...] é um dos sinais mais importantes do amadurecimento do desenvolvimento emocional”, postula o pediatra e psicanalista inglês Donald W. Winnicott.
Por que as pessoas devem ser, todas, bem relacionadas socialmente, amigáveis, populares, rodeadas por outras pessoas?

A solidão não é apenas o refúgio em um mundo próprio, uma fuga do desprazer, ou uma faceta do individualismo, da indiferença ao outro, do narcisismo, onipotência, entre tantos outros nomes que poderíamos usar, reduzindo a experiência de solidão, muitas vezes apenas em um aspecto pejorativo.
Quer dizer, poder sentir prazer em estar sozinho e sentir-se inteiro nesses momentos é uma condição psíquica que indica uma maior possibilidade de demonstrar e receber afetos.
A capacidade de estar só resulta sim, acredite, numa maior condição de estar com um outro.
Sentir-se livre para estar bem consigo próprio resultará em uma capacidade de estar só e, quem sabe, viver relacionamentos satisfatórios onde o outro é desejado e não necessitado.

Daisy Lino
Psicanalista e membro do TRIEP
daisy_lino@hotmail.com
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