Um psicanalista é aquele que conquistou o direito de exercer esse ofício quando se comprometeu ética e seriamente com todas as exigências desta formação. Essa conquista não é fácil, nem rápida e muito menos livre de angústias e inquietações.
A Psicanálise é uma prática terapêutica, mas não faz parte da Psicologia.
Apesar de alguns conceitos da psicanálise fazerem parte das matérias da graduação das Faculdades de Psicologia, elas são duas ciências diferentes, com objeto de estudo específico a cada uma.
A Psicanálise não é uma profissão regulamentada, mas sim uma área de especialização. Por isso, não é considerada privativa de psicólogos ou de médicos. O Conselho de Psicologia, por exemplo, entende que a Psicanálise pode ser exercida por pessoas que possuam nível superior, associada a uma especialização.
O psicanalista é um clínico atento aos sintomas psíquicos – psicológicos e até mesmo somáticos. Sua tarefa é se ocupar do inconsciente quando o inconsciente faz sofrer. Deve ser um observador minucioso, atento às falas, aos silêncios dos pacientes e também às manifestações corporais.
Quem quer ser um psicanalista deve ser graduado em nível superior e, impreterivelmente, ter iniciado sua análise pessoal.
Entender as motivações do sofrimento psíquico dos outros será proporcional ao entendimento que o analista possua de si mesmo. Um psicanalista sério e comprometido com seu ofício tem a disposição e coragem para aventurar-se pelo mais recôndito de si mesmo. E é da sua análise pessoal que dependerá sua capacidade de escutar. Escutar é algo bem mais complexo do que ouvir.
O efeito da análise pessoal do analista, para além de acalmar suas próprias dores e permiti-lo viver melhor, trará sentido à outra importante exigência da formação – a relação do psicanalista com a teoria, com o saber.
O estudo dos textos freudianos, ora agradável de ler ora difícil e intrigante, é repleto de momentos de elucidação, mas sempre uma experiência repleta de dúvidas, formulações, reformulações, leituras e releituras no itinerário dos nossos questionamentos e descobertas.
Enganam-se terrivelmente aqueles que acreditam que é só ler as obras de Freud e tudo está ali devidamente respondido, afinal “Freud explica” ou não? Não, Freud pergunta.
Então, o estudo da Psicanálise vai requerer uma disposição constante de interrogar e colocar em questão os modelos teórico-práticos; uma disposição à renúncia de uma teorização perfeita e com certezas absolutas.
A complexidade da vida psíquica que se vive na clínica é grande demais, desse modo, nossas escolhas teóricas não serão “simples” leituras, muito menos um manual a ser seguido, mas uma busca marcada pela inquietude, angústia e questionamento ativo do desejo de saber do candidato à psicanalista. Isto significa estudar, discutir sua prática com outros psicanalistas mais experientes, se colocar a pensar e se questionar sempre.
Pensar que a prática clínica psicanalítica seria uma mera aplicação de uma teoria tida como sagrada e que se estaria ali – no espaço clínico – para conduzir um outro oferecendo respostas às suas perguntas, sejam quais forem, é no mínimo presunçoso e no máximo perigoso e abusivo.
A formação de um psicanalista supõe muita paciência para a construção artesanal do seu lugar profissional, disponibilidade de pensar no outro e em si mesmo e reconhecer que essa escolha profissional envolve suportar entrar em contato com pessoas diferentes de nós, e em determinados casos muito diferentes.
Ter pelas diferentes experiências humanas uma enorme curiosidade e apreço e não uma recusa, desprezo ou julgamento moral.
Constituir-se na posição ética de que esse trabalho não é o de decidir o bem ou o mal, o certo ou o errado, quem tem ou não razão. Não se é um juiz e muito menos o dono da verdade sobre a vida ou o viver.
Daisy Maria Ramos Lino
Psicanalista, membro do TRIEP.
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