É comum ouvirmos pessoas se queixando de seus sofrimentos dizendo quererem parar de sentir desconforto e angústia em relação ao casamento, no cuidado com os filhos, com os amigos, no ambiente de trabalho e assim por diante. Podem esperar, com o tratamento psicanalítico, que tal sofrimento cesse, aguardando do psicanalista respostas que possam lhes dar um tanto de conforto. Será que querem de fato mudar ou apenas parar de sofrer?
Freud, no início da psicanálise, faz uma mudança crucial junto aos seus pacientes: ao invés de lhes oferecer respostas a partir de seu saber teórico, como era feito na época da hipnose pelos médicos, pede para que falem e associem livremente. Neste tipo de atitude, são os próprios pacientes que passam a encontrar as respostas que eles mesmos carregam, mas que ainda não sabem.
Tal lugar ocupado por Freud possibilitou retirar os pacientes de uma postura passiva de esperar que “a cura” viesse do analista. Em suma, colocavam-se a trabalhar quando associavam livremente a partir do que eles próprios se queixavam, ao invés de esperar que uma solução milagrosa partisse do analista. Freud fazia perguntas em pontos-chave para a compreensão do que estava sendo dito pelos pacientes, em uma atitude de investigação e de interesse ao que eles lhes diziam, para daí poder interpretar a partir da própria história contada pelos pacientes.
Tal atitude de espera por um saber que parta do analista e que diga o que a pessoa tenha que fazer se assemelha ao posicionamento que as crianças têm em relação aos seus pais: devotas do amor parental, aguardam deles respostas às suas inquietações, assegurando o seu lugar infantil onde o amor pode ter um caráter de “obediência crédula”, como diz Freud em seu texto Tratamento psíquico (ou anímico), em “relações amorosas plenas de dedicação” (p. 280). Um lugar subserviente e devoto, pode acabar silenciando o que de fato a pessoa quer falar. Este posicionamento pode persistir na vida adulta.
Por isso, é importante que o paciente passe, cada vez mais, de tal atitude passiva de esperar que o saber esteja do lado do analista para uma postura ativa ao colocar-se a falar, fazendo as conexões necessárias para perceber em quais posições ele se encontra frente àquilo que ele próprio se queixa, mesmo que venha a descobrir o que antes não queria saber.
Este é um processo que não ocorre sem algum tipo de sofrimento, já que sair de tal posição passiva e infantil não é agradável e sem resistências. Não é fácil mudar! Podemos preferir um lugar “confortável” onde sempre nos colocamos a esperar por aquilo que nos falta, sem nada fazer para alterar nada!
Sem dúvida que há pacientes que se debruçam sobre suas questões e sustentam um tanto de desprazer inerente a qualquer processo de mudança, mesmo que este percurso seja repleto de momentos difíceis. Mas é preciso tempo e compromisso para seguir em frente, mesmo com os obstáculos.
Segue a pergunta: você quer apenas parar de sofrer ou se propõe a mudar?
Fabiana Sampaio Pellicciari
psicanalista membro efetivo do TRIEP
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