A psicanálise é uma prática terapêutica e não faz parte da Psicologia. É uma teoria, uma técnica e um método que permite a criação de um processo analítico no qual o sofrimento psíquico pode ser tratado.
Em seu artigo A questão da análise leiga (1926), Freud na introdução esclarece que o termo leigo, do título, é igual a “não médico” e a questão é se aos não médicos seria possível exercer a psicanálise.
Além de ser um artigo interessante para uma introdução à Psicanálise, nele vemos Freud elaborar a ética peculiar da sua ciência e o descolamento desta do campo da medicina, daí a expressão qualificadora de “leiga”.
E qual seria essa ética peculiar?
Seria a de que o psicanalista é aquele que se dispõe a acompanhar o encontro do sujeito com sua verdade respeitando sua singularidade.
Que a análise busca oferecer ao analisando a possibilidade de se apropriar, ao dar forma e sentido, daquilo que se encontra silenciado, inarticulado, inacessível, confuso e é causa de sofrimentos e impasses.
Que tem um caráter não pedagógico, onde a prática está em um campo oposto ao da “prescrição médica” ou de qualquer outro tipo de prescrição porque reconhecemos que o saber sobre si mesmo pertence ao próprio sujeito.
Temos então, até aqui, a constatação de que essa ética peculiar não se encontrará simplesmente frequentando um curso de psicanálise. Há os que acreditam que seria somente um curso, e preferencialmente os mais rápidos, que imediatamente os habilitaria ao exercício clínico e pronto.
Pronto? Não, o percurso para exercer o ofício de psicanalista é trabalhoso, difícil e, pasme, interminável.
Esse percurso para ocupar o lugar de psicanalista implica, também, na ética da neutralidade, quer dizer, não decidir o destino daquele que o procurou, não determinar as escolhas de vida do outro, não se confundir com um conselheiro e muito menos com um “dono do saber e/ou verdade”. Não deve visar à adaptação do sujeito a padrões sociais e culturais e não prometer uma sucessão de dias felizes.
“Mas onde e como esse coitado [o analista] deve adquirir a qualificação ideal que necessitará em sua atividade?” (Freud, Análise terminável e interminável, 1937)
Principalmente, na sua análise pessoal.
Será na travessia de sua análise pessoal que o analista poderá elaborar as condições psíquicas necessárias para evitar impor suas ideias e opiniões, manter uma posição receptiva, proporcionar ao analisando uma escuta isenta de julgamentos morais.
Analista e analisando são feitos da mesma matéria – psique e corpo - e, a análise pessoal do analista o alerta para certos conteúdos e formas de funcionamento que lhe são peculiares e podem vir a ser obstáculos ao trabalho analítico.
A atitude disponível, a atenção flutuante, seu conhecimento de si mesmo e da teoria psicanalítica, a capacidade de tolerar incertezas e dúvidas são “a qualificação ideal que necessitará” para o ofício de psicanalista.
Em tempo, se você continua interessado em cursar Psicanálise leia um dos livros que a colega Leila Veratti indicou no artigo “As cartas de um percurso” – https://www.triep.com.br/post/as-cartas-de-um-percurso .
Leia e vá em frente tendo em mente que a Psicanálise não é remédio para todos os males, ela pode mudar alguma coisa e essa “alguma coisa” pode ser essencial.
Daisy Lino
Psicanalista, membro efetivo do TRIEP
daisy_lino@hotmail.com
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