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Ser mãe não é fácil!

Passado o dia das mães, vamos pensar um pouco sobre esse lugar que muitas mulheres podem ocupar e que, por melhor que seja, não deixa de ser muito conflituoso e difícil, apesar dos muitos mitos que foram criados ao redor desta condição de “ser mãe”.



Toda mãe é igual!


Mãe é perfeita, nunca erra!


A palavra da mãe não pode ser contestada!


Mãe é uma santa!


Que lugar idealizado destinado às mães! Posição que se torna sofrida porque vemos quantas mulheres se sacrificam muitas vezes para tentar fazer valer esta Mãe com M maiúsculo, esta que não existe em lugar nenhum. E tal altar erguido às mães muitas vezes é corroborado na fala das outras pessoas que chegam com críticas do tipo: “mas se essa criança berra tanto assim, é porque a mãe não soube educá-la direito!”, “mas que mãe deixa um filho ficar tão mal-educado assim?”.


Será mesmo que temos que lutar por uma suposta perfeição na difícil tarefa de educar um filho?


Pode ser que encontremos filhos e filhas mais tranquilos, mas isso não quer dizer que seus pais e mães souberam educá-los de forma mais adequada, mesmo porque não há uma fórmula que diga o que uma mãe deve fazer, muito menos para ser uma mãe ideal. Educar é muito mais do que ter filhos quietos e obedientes.


Educar, como afirma Leandro de Lajonquière e como é desenvolvido dentro da perspectiva da Educação Terapêutica, coordenada por Maria Cristina Kupfer, seria a transmissão de marcas simbólicas de filiação, onde a criança se vê inserida em uma história familiar da qual ela passa a fazer parte e encontra um modo próprio de falar, pelas suas próprias palavras, do que pensa do mundo ao seu redor, mesmo que isso possa ir contra os ideais que seus pais projetaram para ela.


No início da vida, um bebê e a criança recebem o que seus pais desejam para ele e também se reconhecem em seu filho: “ele tem meus olhos (da mãe)”, “é carinhoso como o pai”, “forte assim vai ser construtor como o avô”, “cantando assim vai ser artista como a tia”, etc. As crianças vão crescendo e tentando ser aquilo que se seus pais e familiares esperam dela, apesar de, desde o início, já irem encontrando um jeito próprio de se expressar. Mas há momentos em que os filhos querem se distanciar mais destes ideais paternos: será que eles conseguem ou querem perder este lugar especial junto aos pais?


O que temos é uma progressiva perda de um lugar narcísico frente aos pais, lugar necessário a ser ocupado por um bebê quando ele vem ao mundo. “Sua majestade o bebê”, como dizia Freud. Mas ele tem que deixar de ser o rei ou rainha no seio da família e, em especial, para sua mãe. E como ficará a mãe, aquela que cuidou com tanto carinho, deu todo o seu amor, fez tanto por seu filho ou filha, será que suportará não ser tão maravilhosa para seus filhos durante o crescimento deles?


A identidade materna muda no decorrer da vida. Ser mãe de um bebê não é o mesmo que ser mãe de uma criança pequena, assim como de um adolescente ou de um adulto. É preciso suportar perder para poder seguir em frente. Que perda é essa?


A mãe também perde seu lugar narcísico frente ao seu filho e passa a ser cada vez mais contestada e questionada. E não se trata de retomar este lugar especial para que seus filhos fiquem sempre perto acreditando que eles não suportarão se separar. Eles muito provavelmente irão se queixar da perda do amor da mãe, mas que tipo de amor é esse? Eles não querem perder o amor narcísico, este amor entre eles e sua mãe, onde mais ninguém os incomodava: nem o pai, nem um irmão, nem as tarefas da mãe, nem nada mais. Ele é tudo para sua mãe! E ela, é tudo para ele. Será mesmo?


O que uma mãe passa a aprender é que amar não é grudar em seus filhos, mas deixar de ser a única para eles. Com certeza, este processo não é sem dor e está muito longe de ser aquele ideal da mãe perfeita.


Fabiana Sampaio Pellicciari

psicanalista membro do TRIEP


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