Retomo aqui uma temática que escrevi em dezembro/2020 - https://www.triep.com.br/post/a-outra-face-humana

Um homem morreu asfixiado no carro da polícia rodoviária federal pela ação de uma bomba de gás lacrimogênio lançada pelos policiais; um andarilho matou dois policiais a tiros após tomar suas próprias armas; pessoas apanham e são assaltadas em arrastões nas ruas... E no mundo temos guerra, destruição e mortes em massa.
Crimes sórdidos, além de outras formas de violência: falta de cidadania, perda da solidariedade, desvalorizações do próximo, pessoal ou virtualmente nas redes sociais. Sem falar da violência da política, onde se faz vários tipos de desvios para desfrutes e enriquecimentos pessoais.
Na maioria das vezes reconhecemos a violência como um problema externo e, quando atingidos, falamos dela como eventuais vítimas inocentes. É difícil pensar que nós mesmos podemos ser direta ou indiretamente produtores de violência.
Um fenômeno do porte da violência é de tal complexidade que seria muito difícil abarcá-lo como um todo. A violência é fruto de uma história de relações humanas, de frustrações, de conflitos. Por isso, é preciso refletir de que forma as precárias condições de habitação, saúde, educação e inclusão social atuam na dinâmica das relações; qual o lugar que o espaço habitado ou a cidade em que vivemos ocupa na construção de nossa identidade.
A elevada mortalidade e morbidade por violência no Brasil não pode ser compreendido integralmente, sem que se lance mão de determinados termos e conceitos como desigualdade, injustiça, corrupção, impunidade, deterioração institucional, violação dos direitos humanos, banalização e pouca valorização da vida. Outros mais poderiam ser listados.
A violência é um problema da sociedade, que desde a modernidade o tem tratado no âmbito da justiça, da segurança pública, e também como objeto de movimentos sociais. No entanto, dois fortes motivos tornam o assunto preocupação da área da saúde.

Primeiro, porque, dentro do conceito ampliado de saúde, tudo o que significa agravo e ameaça à vida, às condições de trabalho, às relações interpessoais e à qualidade da existência, faz parte do universo da saúde pública. Segundo a violência, num sentido mais restrito, afeta a saúde e frequentemente produz a morte.
Em uma sociedade esvaziada de valores, de solidariedade, de espírito de amizade, que fomenta excessos de violência, banaliza o sexo e a agressão, o que podemos esperar?
O ser humano é um ser pensante. E pensar é reformular e assumir o compromisso que se tem não só com o individual, mas também com o coletivo. Pensar é se responsabilizar na reformulação de condutas próprias e do convívio social.
Diante da complexidade desse fenômeno, a partir de qualquer ângulo que seja abordado, as ações precisam envolver diferentes contextos e contar com a participação de todos.
Mudar o quadro de violência que assola nossa sociedade e o mundo, implica primeiro mudarmos individualmente através do compromisso de tentarmos não ser ou não fazer aquilo que criticamos. Não nos tornarmos, por exemplo, corruptos ou corruptores, sob a justificativa de um Estado que nos desampara com um sistema corrupto ou corruptor.
A psicanálise tem algo a contribuir, pois ensina que, para além da compreensão das razões e da “contabilidade” dos prejuízos verificados com a violência, falta a cada um de nós querer saber por que fazemos exatamente o que dizemos que não queremos fazer, por que repetimos o que dizemos que não queremos repetir, por que desejamos o que dizemos que não queremos desejar.

Daisy Lino
Psicanalista, membro efetivo do TRIEP
daisy_lino@hotmail.com
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